sábado, 21 de março de 2020

1º Ano - Literatura Noções Gerais - Língua e Fala


ETE DOM BOSCO Aluno: _________________________________ Turma : _____
Disciplina Português      Professora: Rosângela Dias       Data: ____/_____/______

Literatura

Noções Gerais – Língua e Fala - parte 1

Funções da Linguagem

Pré-requisitos básicos:
A linguagem, como instrumento de comunicação, não é exercitada gratuitamente.
Segundo Karl Bühler, um enunciado estabelece uma relação tríplice com:
  1. o emissor; 1ª pessoa
  2. o receptor; 2ª pessoa
  3. as coisas sobre as quais se fala; 3ª pessoa.
Fundamentando-se nesse esquema, Bühler encontrou três funções na linguagem: expressiva, apelativa e representativa.
Roman Jakobson apóia-se nessas funções, desdobrando-as com nova terminologia: emotiva, conativa e referencial.
Para ampliar a tripartição de Bühler, Jakobson enfatiza mais alguns elementos no processo comunicatório:
  1. o canal
  2. o código
  3. a mensagem,
relacionando-os com três novas funções: fática, metalingüística e poética.

Funções propriamente ditas

  1. Função referencial (ou denotativa ou cognitiva). Aponta para o sentido real das coisas e dos seres.
Ex.: À noite, vemos a Lua no céu.
  1. Função emotiva (ou expressiva). Centra-se no sujeito emissor e tenta suscitar a impressão de um sentimento verdadeiro ou simulado.
Ex.: Que lua maravilhosa!...
  1. Função conativa (ou apelativa ou imperativa). Centra-se no sujeito receptor e é eminentemente persuasória.
Ex.: Inspira-me, é lua!
  1. Função fática (ou de contato). Visa a estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação e serve para testar a eficiência do canal.
Ex.: Alô, alô, astronautas na Lua, vocês conseguem me ouvir?
  1. Função metalingüística. Consiste numa recodificação e passa a existir quando a linguagem fala dela mesma. Serve para verificar se emissor e receptor estão usando o mesmo repertório.
Ex.: A Lua é o satélite natural da Terra.
  1. Função poética. Centra-se na mensagem, que aqui é mais fim do que meio. Opõem-se à função referencial porque nela predominam a conotação e o subjetivismo.
Ex.: “...a lua era um desparrame de prata” . (Jorge Amado)


Registros ou níveis de lingua(gem)

   A comunicação não é regida por normas fixas e imutáveis. Ela pode transformar-se, através do tempo, e, se compararmos textos antigos com atuais, percebemos grandes mudanças no estilo e nas expressões.
   Por que as pessoas se comunicam de formas diferentes? Temos que considerar múltiplos fatores: época, região geográfica, ambiente e status sócio-cultural dos falantes.
   Há uma língua-padrão? O modelo de língua-padrão é uma decorrência dos parâmetros utilizados pelo grupo social mais culto. Às vezes, a mesma pessoa, dependendo do meio em que se encontra, da situação sócio-cultural dos indivíduos com quem se comunica, usará níveis diferentes de língua.

Martins, Dileta Silveira,
Português instrumental/Dileta Silveira Martins e Lúbia Scliar Zilberknop.–16ª ed.–Porto Alegre:Sagra: DC Luzzatto, 1994


  Dentro desse critério, podemos reconhecer, num primeiro momento, dois tipos de língua: a falada e a escrita.

A língua falada pode ser:
  • Culta 
  • Coloquial
  • Vulgar ou inculta
  • Regional
  • Grupal: Gíria e Técnica
A língua escrita pode ser:

> Não-literária  
  1. Língua-padrão
  2. Coloquial
  3. Vulgar ou inculta 
  4. Regional
  5. Grupal = Gíria e Técnica
> Literária

(Português Instrumental)

Níveis de língua

   Além das diferenças geográficas, existem as diferenças motivadas pelos chamados níveis de língua. Para compreendê-las, basta observar que seu próprio modo de falar varia de acordo com a situação em que você se encontra: ao conversar com seus colegas, você não fala como falaria diante do diretor da sua escola ou de sua mãe. Do mesmo modo, você já deve ter notado diferenças na maneira de se expressar de um médico ou de um advogado, condicionadas pelas situações em que se encontram: no consultório ou no tribunal, eles empregam expressões e termos que dificilmente utilizariam em uma conversa durante o jantar com a família ou com amigos.
     A primeira grande distinção decorrente da existência dos níveis de fala fé a que se faz entre a língua culta e a língua popular ou linguajar.
   A língua culta prende-se aos modelos e normas da Gramática tradicional e é empregada pelas elites sociais escolarizadas. É a modalidade lingüística tomada como padrão de ensino, e nela se redigem os textos e documentos oficiais do país.
   Já a língua popular ou linguajar é aquela usada diariamente pelo povo, desprovida de qualquer preocupação com a “correção” gramatical. Sua finalidade é eminentemente prática: comunicar informações e exprimir opiniões e sentimentos de forma eficaz. Ainda assim, há belos produtos literários escritos em língua popular.

Ex.: - Você aí, menino, para onde vai essa estrada?
  • Ela não vai não: nós é que vamos nela.
  • Engraçadinho duma figa como você se chama?
  • Eu não me chamo não, os outros é que me chamam de Zé. (continho – Paulo Menes Campos)

Língua falada e língua escrita

   O estudo sincrônico de uma língua revela a existência de muitas variações. Inicialmente, há a diferença entre a língua falada e a língua escrita, dois meios de comunicação diferentes. A língua falada é mais espontânea, mais solta, acompanhada de mímica e entonação, que preenchem importantes papéis significativos; a língua escrita não é a simples representação gráfica da língua falada, mas sim um sistema mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com a significação paralela da mímica e da entonação.

(De Nicola, José, 1947 – Gramática contemporânea da língua portuguesa/José de Nicola, Ulisses Infante – São Paulo: Scipione, 1997.)

1 - Língua Falada

1.1 Língua Cultaé a língua falada pelas pessoas de instrução, niveladas pela escola. Obedece à gramática da língua-padrão. É mais restrita, pois constitui um privilégio e conquista cultural de um número reduzido de falantes.

Ex.: Temos conhecimento de que alguns casos de delinqüência juvenil no mundo hodierno decorrem da violência que se projeta, através dos meios de comunicação, com programas que enfatizam a guerra, o roubo e a venalidade.

1.2 Língua Coloquial – é a língua espontânea usada para satisfazer as necessidades vitais do falante sem muita preocupação com as formas lingüísticas. É a língua cotidiana, que comete pequenos – mas perdoáveis – deslizes gramaticais.

Ex.: Cadê o livro que te emprestei? Me devolve em seguida, tá?

1.3 Língua Vulgar ou Inculta – é própria das pessoas sem instrução. É natural, colorida, expressiva, livre de convenções sociais. É mais palpável, porque envolve o mundo das coisas. Infringe totalmente as convenções gramaticais.

Ex.: Nóis ouvimo falá do pograma da televisão.

1.4 Língua Regionalcomo o nome já indica, está circunscrita a regiões geográficas, caracterizando-se pelo acento lingüístico, que é a soma das qualidades físicas do som (altura, timbre, intensidade). Tem um patrimônio vocabular próprio, típico de cada região.

Ex.: A la pucha, tchê! O índio está mais por fora do que cusco em procissão – o negócio hoje é a tal de comunicação, seu guasca!

1.5 Língua Grupalé uma língua hermética, porque pertence a grupos fechados.

1.5  a) Língua Grupal (Técnica) A língua grupal técnica desloca-se para a escrita. Existem tantas quantas forem as ciências e as profissões: a língua da Medicina (como é difícil entender um diagnóstico...), a do Direito (restrita aos meios jurídicos), etc. Só é compreendida, quando sua aprendizagem se faz junto com a profissão.

Ex.: O materialismo dialético rejeita o empirismo idealista e considera que as premissas do empirismo materialista são justas no essencial.

1.5 b) Língua Grupal (Gíria)Existem tantas quantos forem os grupos fechados. Há a gíria policial, a dos jovens, dos estudantes, dos militares, dos jornalistas, etc.

Ex.: O negócio agora é comunicação, e comunicação o cara aprende com material vivo, descolando um papo legal. Morou?

2 – Língua Escrita

2.1 Língua Não-Literaria A língua não-literária apresenta as mesmas características das variantes da língua falada tais como língua-padrão, coloquial, inculta ou vulgar, regional, grupal, incluindo a gíria e a técnica e tem as mesmas finalidades e registros, conforme exemplificaremos abaixo:
  1. Língua Padrão é aquela que obedece a todos os parâmetros gramaticais.
Ex.: “O problema que constitui objeto da presente obra põe-se, com evidente principalidade, diante de quem quer que enfrente o estudo filosófico ou o estudo só científico do conhecimento. Porém não é mais do que um breve capitulo de gnoseologia.” (Pontes de Miranda)
  1. Língua Coloquial
Ex.: Me faz um favor: vai ao banco pra mim.
  1. Língua Vulgar ou Inculta
(Trecho de uma lista de compras)
assucar, basora (=vassora), qejo(=queijo), fosco(=fósforo)
  1. Língua Regional
Deu-lhe com a boleadeira nos cascos, e o índio correu mais que cusco em procissão.
  1. Língua Grupal
Ex.: “Desculpa, mãe. É só o jeitão de falar. Vocês coroas também não moram no papo da gente...”

Observação: quando redigimos um texto, não devemos mudar o registro, a não ser que o estilo permita, ou seja, se estamos dissertando – e, nesse tipo de redação, usa-se, geralmente a língua-padrão – não podemos passar desse nível para um outro, como a gíria, por exemplo.

2.2 Língua Literária – A língua literária é o instrumento utilizado pelos escritores. Principalmente, a partir do modernismo, eles cometeram certas infrações gramaticais, que, de modo algum, se confundem com os erros observados nos leigos. Enquanto nestes as incorreções acontecem por ignorância da norma, naqueles as mesmas ocorrem por imposição da estilística.
Ex.: “Macunaíma ficou muito contrariado. Maginou, maginou e disse prá velha....” (Mário de Andrade)

Martins, Dileta Silveira,
Português instrumental/Dileta Silveira Martins e Lúbia Scliar Zilberknop.–16ª ed.–Porto Alegre: Sagra: DC Luzzatto, 1994.

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